Armadilhas da visão e o lobo solitário.

(por Gonzalo Jiménez – Chile)

Quando há turbulências, quando há incerteza no mercado, você não deve apenas procurar opções fora da caixa, mas esquecer as caixas e co-construir novas esferas, crescendo em espiral e indo muito além da visão de túnel. O empreendedorismo em liberdade, sem objetivos ideais, impostos externamente ou pré-determinados, nos permite evitar as armadilhas da miopia corporativa e do lobo solitário.

Quando há turbulências, quando há incerteza no mercado, você não deve apenas procurar opções fora da caixa, mas esquecer as caixas e co-construir novas esferas, crescendo em espiral e indo muito além da visão de túnel. O empreendedorismo em liberdade, sem objetivos ideais, impostos externamente ou pré-determinados, nos permite evitar as armadilhas da miopia corporativa e do lobo solitário.

Um fator distintivo do mundo BANI de hoje (Brittle – frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível) é a colaboração. Na música, na ciência, mas também no empreendedorismo e na inovação. Hoje, trabalhar de forma associativa para realizar objetivos comuns e valorizar bem os nossos negócios é um imperativo.

No entanto, colaborar requer abertura, flexibilidade e combinar a vontade de convencer com a capacidade de ser convencido. Isso exclui definitivamente quem tem o estilo “ideia fixa” e encurta a vida útil dos “sabe-tudo”.

Mas há aqueles que permanecem teimosos em uma grande visão, vários que veem seus empreendimentos com um olhar de túnel. Ou seja, enxergam um objetivo, uma única saída: vender. Em que o erro e o preconceito são cometidos para rotular imediatamente como “clientes”, aqueles que o abordam, sem a imaginação para visualizar que há muito mais alternativas potenciais neles.

Deixar de lado esse visual não é fácil. Quem estudou administração poderá reconhecer o legado de Michael Porter, da Harvard Business School, como um dos ideólogos da estratégia competitiva e como ela permeou durante anos a forma de entender setores industriais maduros e estáveis, através de seu famoso modelo das 5 forças. Mas, acabou que não eram 5, mas 6, porque ele esqueceu os complementadores. Ou seja, aqueles que podem colaborar com você.

Na verdade, essa visão, para aqueles que ainda a mantêm, exige novas sinergias e complementações, porque os negócios, e em particular o empreendedorismo, hoje se fazem com outros. É tolo e até arriscado ter uma visão excessivamente focada. O mesmo acontece quando se vê o “cliente” apenas como comprador, pois ele pode perfeitamente ser um novo investidor, um distribuidor ou um parceiro para empreendimentos inimaginados. Abrir-se a isso e colher as vantagens de tal associatividade só é alcançado se se mantiver uma atenção flutuante e cultivar uma perspectiva mais ampla.

Convido aqueles que empreendem a parar de ficar obcecados com o conceito de “cliente” e começar a internalizar o que temos em torno de nossos empreendimentos ou de nossas startups para os stakeholders. Deixar para trás rótulos, nos permite abordar um ganha-ganha, e nos permite pivotar nossos negócios, e pode favorecer a evolução do negócio ou uma metamorfose conceitual que cria valor.

Saras Sarasvathy, vencedora do Global Award for Entrepreneurship Research em 2022, nos aponta para um caminho muito mais inovador com o reconhecido modelo Effectuation, que nos convida a gerar novas conversas, a explorar alianças não convencionais. Em suma, coconstruir acordos que anos atrás eram impensáveis, mas que hoje são possíveis e nos permitem interagir com os outros para nos propormos e alcançarmos novos objetivos – impossíveis de prever a priori.

Uma liderança eficaz reconhece que o ambiente não é fixo e pode ser modificado através da interação com os outros.  Co-construir e desenvolver relacionamentos são as chaves hoje, porque os desenvolvimentos atuais são naturalmente colaborativos e vão além da miopia das transações de curto prazo.

Portanto, embora pareça contraditório, você pode colaborar com outro e, ao mesmo tempo, competir em outros espaços. Não estamos falando de conluio – completamente reprovável – mas de sermos capazes de pivotar nossas relações e buscar soluções criativas e inovadoras.

Quando há turbulência, quando há incerteza no mercado, você não deve apenas procurar opções fora da caixa, mas esquecer as caixas e co-construir novas esferas, crescendo em espiral e indo muito além da visão de túnel. O empreendedorismo em liberdade, sem objetivos ideais, impostos externamente ou pré-determinados, nos permite evitar as armadilhas da miopia corporativa e do lobo solitário.

Publicação original (em espanhol – 04/ago/2023)

Destacado pela revista on-line “Family Capital” como um dos Top 100 Global Academic Influencers no mundo das familias empresarias, Gonzalo Jiménez é Doutor em Governança Corporativa pela Universidade de Liverpool, Mestre em finanças pela Universidad de Chile onde também se graduou como Engenheiro. Cursou MBA’s na London Business School e na École des Ponts ParisTech e é Scholar na Harvard University (David Rockefeller Center for LatAm Studies). É fundador e presidente da Proteus Management com sede em Santiago, Chile, colunista de diversos periódicos de negócios e atua como Conselheiro de empresas familiares e como Professor de diversos cursos e faculdades, dentre eles do Centro de Gobierno Corporativo da Universidade Católica do Chile, Universidad del Desarollo e Universidad Adolfo Ibañez. É co-autor do livro Corporate Governing in Latin America: the Importance of Scandals to institute change, disponível aqui.

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