Família com Liquidez é reflexo apenas de uma Estratégia de Negócios?

No artigo “A nova abordagem de investimento para famílias empresárias”, algumas das perguntas foram em torno de continuidade, transformações, necessidades cada vez mais heterogêneas das famílias, dificilmente atendidas por um único tipo de organização societária e familiar. Nele foram apontados temas emergentes a serem considerados pelas famílias que querem ser investidoras com longevidade. Recomendo a leitura, e digo de maneira entusiasmada, pela qualidade e teor do artigo.

O patrimônio familiar

Não tenho como discordar de que a preservação do patrimônio familiar ao longo do tempo é o foco de um grande número destas famílias. Mas quero oferecer um contraponto, fazer perguntas sobre possíveis rotas alternativas. 

Sim, uma abordagem pode ser a de Investimentos diretos, pois assim podem injetar capital nas que carecem de fontes, especialmente durante crises. Também entendo que as famílias empreendedoras têm um horizonte de longo prazo, que também se reflete nas suas estratégias de investimentos. E que se tornaram mais móveis, não apenas do ponto de vista de sede e jurisdição fiscal, mas os papéis que membros assumem e abandonam, tudo ficando mais fluido. Mas o último ponto discutido no artigo, a Sucessão, quando estruturada para permitir a liquidez parcial, é onde quero injetar a semente da discussão deste: Estratégia de Saída.

Sucessão e Estratégia de Saída

pexels.com

Por que trago isto para a mesa? Porque sempre se discute muito em investir, entrar como sócio, trazer mais capital, trazer mais sócios, fazer o negócio crescer, sempre mais, mais e mais.

Mas… e quando e como podemos sair dele? Digo, sair bem, sem perder tudo o que se acumulou de ganhos e vitórias, e com todo o suor de uma vida, numa saída ou venda mal planejada. 

Eu, pessoalmente, sou propenso a escutar a proposição para investir em qualquer negócio, de qualquer pessoa, e chego a considerar e verificar a viabilidade de fazê-lo, quando interessante. Mas qual é o ponto em que a maioria das propostas de captação falham e não conseguem me conquistar? 

Simples, é quando não sabem explicar quando e como se pode sair do investimento. 

Como investidor, não tenho medo de entrar em nenhuma empresa – independentemente do tamanho, desde que eu visualize de maneira clara quais são as saídas e o quanto me custaria uma saída mais abrupta ou mais lenta. Quais minhas possíveis perdas? Poderia ficar sem a carteira? Sem o relógio? Teria uma dor de barriga? Ou teria que me casar com a filha do dono? 

No caso de sociedades e empresas, a Estratégia de Saída também pode ser discutida do ponto de vista de Realizar o Valor. Para esclarecer, definimos:

Os investimentos em uma empresa e o seu desenvolvimento representam a etapa de criação de valor.

A sua venda total e parcial, e suas retiradas de dividendos, são as de realização de valor.

Por isso vale a pena se perguntar e tornar explícito o que sócios e famílias às vezes mantêm implícito ou secreto: qual é de fato o horizonte em que se espera manter a sociedade crescendo e criando valor, e quando se espera realizar o valor? Observaremos que as expectativas podem ter distância enorme entre diferentes membros. Estas distâncias precisam ser tratadas para evitar surpresas num eventual processo. Uma excelente ferramenta a se aplicar neste caso é a Escala F-PEC e a partir dela, a elaboração de um Acordo de Cotistas que abranja essas questões.

Partindo de uma definição básica: O que é uma estratégia de saída?

Uma estratégia de saída é aquela que permite que o proprietário/investidor extraia seu dinheiro de um empreendimento. As estratégias de saída não só ajudam a garantir que você terá um retorno sobre o investimento, mas também tranquilizam investidores de que seu dinheiro estará em boas mãos. Uma estratégia de saída de negócios deve ser parte do plano estratégico de um empreendedor para vender sua propriedade em uma empresa para investidores ou outra empresa, caso deseje. Uma boa estratégia de saída dá ao empresário uma maneira de reduzir ou liquidar sua participação em um negócio com menores perdas ou mesmo um lucro substancial. Principalmente se o negócio não for bem-sucedido, uma estratégia de saída permite ao empresário limitar as perdas. Uma estratégia de saída também pode ser usada por famílias empresárias para remanejar seu foco e planejar o saque de um investimento para o qual não exista interesse ou sucessão viável, permitindo, inclusive, o início de um novo ciclo investidor. 

Estratégia de Negócios e Liquidez

A família consciente de que diferentes estratégias de saída dos seus negócios oferecem diferentes níveis de liquidez, pode e deve discutir o tema. Preferencialmente depois de aplicar modelos que elevam muito o nível de consciência situacional (Modelo dos Três Círculos) e que ajudam a entender para onde pensam ir (Modelo Evolutivo). Vender a única empresa que provê emprego e renda para os membros da família pode ser algo cuja discussão seja extremamente difícil, embora possa oferecer a maior quantidade de liquidez no menor espaço de tempo, dependendo de como a transação for estruturada. 

A viabilidade de uma determinada estratégia de saída dependerá também das condições da empresa e de mercado; por exemplo, um IPO pode não ser a melhor estratégia de saída se o faturamento dela estiver abaixo de um certo patamar, se a governança dela estiver ainda muito imatura e não houver controles e auditorias que respaldam seu valor e robustez. 

Estratégia de saída: qual é a melhor?

Marcos Rittner, 2016 – Acervo pessoal

A melhor estratégia de saída é aquela que atende os anseios e desejos dos sócios, mas que também depende do tipo e tamanho da empresa. Por exemplo, a estratégia ideal de saída de um único proprietário pode ser simplesmente ganhar o máximo de dinheiro possível e, em seguida, encerrar o negócio. Mas se a empresa tiver vários fundadores, ou se houver herdeiros, investidores além dos fundadores, pessoas de fora da família – os interesses destas outras partes também devem ser considerados na escolha de uma estratégia de saída. Mesmo que ela fique no papel e não seja usada. Qual a recomendação? Estudar a empresa, construindo modelos que reflitam a situação atual e futura desejada dos familiares e acionistas. Construir um robusto e bem elaborado Acordo de Acionistas, já seria uma ótima maneira de se discutir parâmetros bem objetivos, claros e justos para a entrada e saída de investidores na sociedade.

Lembrando que a liquidez é apenas uma das dimensões de política de cotistas. Há ainda que se pensar em abertura (podem os não-familiares investir na empresa?), desenvolvimento pessoal (se apenas quem sabe fazer pão pode ser dono da padaria da família, ou apenas quem estudou administração de empresas pode) e a flexibilidade (pode algum cotista reduzir sua participação pela metade? ou tem que sair completamente? etc).

Numa próxima reunião de família ou na próxima reunião de acionistas, traga a pergunta hipotética para a mesa: “Se algo acontecer que demande uma mudança drástica com algum dos acionistas… vamos supor, por exemplo, que ele(a) tenha que se mudar para o outro lado do planeta e deixar de estar presente e de ter qualquer envolvimento operacional, financeiro, de propriedade ou gestão com a empresa: 

  • como se faria a liquidação dos seus direitos? 
  • quem compraria a sua parte? 
  • em quanto tempo essa transação teria que ser concretizada?
  • por qual valor, e como seria apurado?
  • em quanto tempo ele seria pago?  e, por último,  
  • como a sociedade sobreviveria sem essa pessoa participando da gestão (caso ela tenha um papel na mesma)?

Uma vez feita a pergunta, os acionistas não precisam tomar nenhuma atitude de imediato. Só enunciando as perguntas e observando as reações (a sua inclusive), o ambiente vai te dar um grau de prontidão da sociedade, e o grau de dificuldade de obtenção das suas respostas. Seria o momento, então, de se propor um trabalho preventivo nessa direção? Nunca é tarde ou cedo demais para se fazer ou refazer o plano da empresa com estratégias de saída inclusas. Mesmo as empresas nascendo agora precisam de uma.

Neste cenário, mais do que nunca, em função da profundidade do tema, não faça sozinho. Te ofereço 30 minutos nos quais lhe proporcionarei algumas direções.

Marcos Rittner

Marcos A. Rittner – MBA – IBMEC em Mercado de Capitais. Engenheiro Aeronáutico pelo ITA- Instituto Tecnológico de Aeronáutica – Profissional com mais de 30 anos de carreira executiva em Gestão, Consultoria, Vendas e Estratégia de empresas multinacionais e nacionais dos segmentos de Tecnologia, Serviços e Indústria Pesada. Criador da Metodologia de Diagnóstico Empresarial, descrito em seu livro sobre Recuperação de Empresas. “A corda”, publicado em janeiro de 2017, disponível também em formato Kindle.

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5 Comments
  1. “O que é uma estratégia de saída?” – Sensacional essa abordagem, pois todos os negócios precisam ter essa cláusula. A saída de um dos sócios, mesmo que da família, precisa ser prevista em contrato. Aquela famosa frase “na hora a gente pensa” não é salutar. Parabéns! Atts Hilton Monteiro Cristovão – Eng Eletrônico

    1. Caro Hiton, muito bem apontado.
      Quando entramos em qualquer tipo de negócio, acabamos aportando capital financeiro, humano, intelectual. Voce pode ter criado um negocio do nada com seu trabalho, em homens x horas etc… Mas em algum momento você (ou seus herdeiros) precisarão “sair” do negócio. Ou simplesmente podem exercer o direito de não querer continuar. Este é um processo que é critico para a maximização do valor com o qual se “sai” de um negócio. A elaboração das alternativas neste processo é a “estratégia de saída”. Quer conversar mais, agende 30 minutos conosco através do link. (confira a disponibilidade nas próximas semanas) que está no texto [Te ofereço 30 minutos], ou aqui: https://calendly.com/mr9/entrevista-qualificacao-pre-diagnostico-com-mr?month=2021-09. Um abraço.

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